19 outubro, 2008

DÚVIDAS





Toda esta azáfama à volta do sistema bancário mundial tem-me deixado perplexa.
Para mim, que não percebo nada de economia, mas que no entanto convivo com ela diariamente, a tal ideia de "mercado", demonstrou que está em estertor profundo, por isso o que achava natural é que deixassem morrer o que tem de morrer, mesmo se com esse facto o mundo entrasse em resseção, em vez de estarem a tentar colar com adesivos o que está estruturalmente mal.
Penso que da resseção, poucos se vão livrar, com um peso excesivo para todos os contribuintes.
Ora o que eu gostava era que os políticos, tivessem neste momento preocupados em encontrar respostas imaginativas, para a economia mundial, em vez de estarem a tentar salvar um sistema que nos últimos dez anos demonstrou que não serve a ninguém, excepção feita, aos maus gestores e principalmente aos maiores vigaristas do sistema económico.
Mais tarde ou mais cedo, penso que não demorará tanto tempo a aparecer como esta, irá haver uma outra crise, e desta vez bastante mais forte, que talvez varra de modo trágico todo o mundo.
Porquê toda esta obsessão?
Só falta de imaginação?


Não me conformo com o preço da gasolina
O barril de crude está à volta dos 90 doláres, e nós estamos a pagar a gasolina praticamente ao mesmo preço, quando o mesmo barril rondava os 140 doláres.
Porque será que ninguém fala do assunto?
Porque será que não vejo bloggers a refilar com o preço?
Estão todos cheios de dinheiro? é que eu não estou, favas!
O que é que se está a passar neste país que os consumidores, pagam e calam, como se nadassem em dinheiro.
Safa! têm andado a fazer "vaquinhas" e têm todos ganho o euromilhões?

10 comentários:

Luís Maia disse...

O ministro da Economia de Espanha anunciou que a gasolina dentro em breve baixará para 1 € o litro, por cá diz-se que nem pensar.

Continua-se brincado com a rapaziada sabendo-se da nossa passividade e a lata de continuarmos a abastecer na Galp que por acaso mesmo em Espanha (Ayamonte) é a que vende mais caro.

Hoje a gasolina 98 na Galp valia 1,49,9 o litro, porém no Retail Park aqui na saída de Portimão custava "apenas" 1,36,4, qualquer coisa como menos 13,5 cêntimos por litro.

Pelos visto existe alguém não alinhado no cartel gasolineiro.

Prof-Forma disse...

Caríssima Minucha;

A alternativa à economia de mercado é inexistente. As únicas experiências para a contrariar foram as levadas a cabo nos países de Leste, com a estatização da economia, a planificação, e a - dita - repartição igualitária do produto do trabalho. Sucedeu contudo que todas essas experiências foram o desastre económico sabido, e são-no ainda hoje em Cuba, na Coreia do Norte, no Vietname, no Laos. A China só pôde desenvolver-se quando abandonou o velho sistema e adoptou a economia de mercado.
Contudo, para nosso mal, a economia de mercado é tendencialmente crítica. Nada a fazer: a sobreprodução, a tendência descendente da taxa de lucro, os ciclos de rentabilidade, e outros fenómenos económicos empurram o sistema, volta e meia, para a catástrofe. Quando muito, como propôs Keynes, os Estados podem criar mecanismos de previdência social com que assegurar a sobrevivência dos seus cidadãos, e eventualmente tomar parte em sectores da economia para a dinamizar em tempos de recessão. Ou pode regular economia para minorar, ou adiar, estas crises: mas não as pode evitar. É assim que o sistema funciona. Infelizmente, ninguém tem uma alternativa a isto.

Anônimo disse...

Pois é Luisinho
mas eu estou farta desta treta e quero a gasolina muito mais barata.
Somos todos consumidores, e não fazemos nada.
Já basta de sermos tão parvos, tão carneiros mansos

beijinho

Anônimo disse...

Viva JV


Parece-me que pode não ser tão simples.
vejamos:

Lembro-me do frigorífico que os meus pais tiveram durante mais de 40 anos, excepcional.

É só um exemplo para relembrar uma época em que a qualidade e a fiabilidade de qualquer peça, era o mínimo que se pedia a um fabricante, era o mínimo para esse fabricante mostrar que era honesto, ou falia.

Esta economia de mercado de que fala, é a mesma que também combate quando fala contra o consumo ou pretende que não haja inflacção.
Ora, foi esta mesma economia de mercado que inventou as duas premissas anteriores, porque o que se quer é cada vez maior produção.
Para haver maior produção, não há uma única peça, seja do que for, que não tenha um prazo de validade curto.
Já viu bem a pescadinha de rabo na boca que esta economia arranjou?
Exige o consumo!

Não quero ir para o leste, quero é voltar ao tempo em que um frigorífico durava 40 anos.
Parece-me fácil.
Precisamos é de voltar um pouco atrás e só ganharemos com isso:
- melhor nível de vida
- melhor qualidade de vida
- menos ganância
- menos corrupção

Para mim é uma alternativa, e o facto de ainda não se ter experimentado mais nada, não quer dizer que não haja, quer é dizer que os grandes estão bem assim e querem continuar.
Eu, que não sou ninguém, não quero que continue assim.
É necessário imaginação, é necessária coragem, mas alguma coisa tem de mudar.
Não aceito que os bancos que andaram anos a ter lucros fabulosos, venham agora ser os desgraçadinhos do sistema.
Põe-me de tal maneira furiosa, que acho que toda as pessoas deveriam ir a correr aos bancos levantar o seu dinheirinho e depois veríamos como é que era.

Utopia, JV?
Eu gosto de utupias, que no fundo não o são.
É claro que não sou economista, felizmente.

beijinho

Luís Maia disse...

Claro que a visão idílica que JV traça sobre as benesses da economia de mercado, são absolutamente destruídas com as notícias que chagam a todo o momento.

Dá para perceber que há nuances para essa mesma economia de mercado que não podem deixar de ser rigorosamente cumpridas de tal modo que pelo menos as sujeiras que afinal os santos padroeiros da evolução são capazes de armar em nome sua própria ganância sejam definitivamente banidos.

Pelo menos liberais nunca mais, anjinhos pioneiros da liberdade tipo Borges, nem vê-los, aquele blá blá dos fundos de reforma nas mãos das AIG que por aí polulam, onde estão agora ? Provavelmente a bater palmas aos governos que os ajudam

Já agora onde estão afinal os exemplo de sucesso da economia de mercado, até há dias era a Finlândia e hoje ? Quem se prepara para gerar a curto prazo 20 milhões de desempregado ? em Cuba ou na Venezuela será ?

O agitação é só porque alguns muito ricos abanaram, para acabar de vez com a fome, provavelmente gastando muito menos dinheiro do que com as injecções de agora, nunca houve disponibilidade da parte da economia maravilha

Prof-Forma disse...

Caríssimo Luís;

Afirmar que tenho considero a economia de mercado um idílio é completamente errado, e terá de relevar de um - desculpável, de resto - total desconhecimento do que tenho escrito no meu blogue. Ou até mesmo do que disse neste comentário: «o mercado tem uma dinâmica tendencialmente crítica», disse eu - isto parece-lhe característica de uma coisa idílica, Luís?
O que afirmo é que no máximo dos máximos podemos - e aqui respondo à Minucha - introduzir no funcionamento do mercado, através da legislação, formas de obstar às crises mais cruéis. Podemos opor-nos à cartelização, podemos combater a especulação, podemos legislar sobre as condições de acesso ao crédito, podemos impor padrões de qualidade para a produção, podemos aumentar os salários, baixar as taxas de juro, fazer um bilião de coisas. Mas todas estas coisas não vão substituir a estrutura da produção de riqueza, que assenta na produção massificada, na circulação cada vez mais veloz da mercadoria, e que por isso gera tendência para a sobreprodução e para a descida da taxa de lucro, com inerente crise. Para não voltarmos a ter uma crise destas, ou como a de 73, ou como a de 29, seria necessário pura e simplesmente implementar um modelo de produção que não fosse o capitalista - mas qual seria esse modelo?
Quanto a mim, a única solução é a implementação das medidas que enuncio acima, e que constituiriam sempre aperfeiçoamentos, que constituiriam, se quiser, uma humanização do capitalismo. Mas não são um modelo alternativo: são uma forma diferente de implementar os mesmos princípios. De um modelo alternativo completo, tanto quanto sei, ninguém dispõe.

Luís Maia disse...

Meu caro JV

1-Quando eu considero que alguma coisa é insubstituível e que toda a minha vida têm que funcionar em volta dela e que nada mais têm validade foram desse âmbito, posso dizer que tenho uma visão idílica, dessa circunstância.

2-Realmente tenho o seu blog referenciado, mas só muito recentemente e ainda não tenho uma visão global.Sobretudo depois desta troca de opiniões, fico muito mais interessado em segui-lo.

3-Realmente vc falou na humilhação do capitalismo e enunciou um conjunto de medidas , que podem obstar a rédea solta das opções liberais selváticas .

Naturalmente que evolução da sociedade pode começar exactamente por aí, mas meu caro naturalmente que não se espera que o futuro seja o retorno à teoria da revolução armada e da implementaçõa da ditadura do proletariado.

4-Neste momento, pode falar-se que apesar de tudo é possível mesmo dentro do quadro capitalista, é totalmente diferente se o poder é assumido, considera que é a economia que comanda a política, ou vice-versa.

vc sabe tão bem como eu que esta é a questão central neste momento , mas não sei como se chama uma sociedade dirigida por força política, cuja primazia, sejam os princípios que tragam as pessoas para o centro das preocupações.

Anônimo disse...

Meu querido JV


isto da economia, é como tentar arranjar um remédio para uma qualquer doença.
Os cientistas experimentam e trabalham em formas alternativas até encontrarem o diacho do remédio.
Os economistas poderiam fazer o mesmo senão estivessem convencidos que o capitalismo, por oposição ao comunismo, é o melhor que se pode arranjar.
Se metessem na cabeça que não é, já estariam a tentar arranjar uma qualquer forma alternativa que fosse um possível remédio, para tratar da "saúde" ao capitalismo.
Estas crises vêm demonstrar que o capitalismo desde que se entrou no consumo selvagem, está a falir e daí cada vez os ciclos serem menores.
De 1929 a 1973 foram 44 anos. De 73a 2008 são 35 anos, já com alguns pequenos crashs pelo meio.
Daqui a 15 ou 20 anos teremos um ainda maior.
Claro, já estou a fazer futurologia, e só espero que sejam 20 anos para não ter de assistir.

beijinho

Luís Maia disse...

Meu caros JV e Minucha

Para combater isto

«Portugal é um dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) com maiores desigualdades na distribuição dos rendimentos dos cidadãos, ao lado dos Estados Unidos e apenas atrás da Turquia e México.» [da Lusa]

e a realidade de termos mais de 2 milhões de pessoas a viverem no limiar da pobreza

nem é preciso alterar o esquema de produção, nem sequer promover a revolução proletária

basta um partido no poder que queira realmente jugular a ganância, a mentira e os desrespeito pelas pessoas menos favorecidas

Prof-Forma disse...

Amigo Luís Maia;

Perdoe-me o reparo, mas ao contrário do que afirma eu não escrevi que o capitalismo é insubstituível. Disse apenas que, neste momento, não dispomos de qualquer modelo com que o possamos substituir. A diferença, parece-me, é grande e é evidente. Pode - aliás, deve - um dia surgir um modelo que o suplante e o substitua: mas no estado actual das coisas do mundo não conheço nenhum modelo alternativo à economia de mercado, e considero que o máximo que se pode fazer é, através da lei, melhorar a vida das pessoas no âmbito do modelo capitalista. Isto não é seguramente ter sobre o capitalismo uma visão optimista, ou considerá-lo um «non plus ultra» (e é esse o sentido da expressão idílico): é simples ter, tanto quanto me parece, uma percepção algo objectiva do mundo onde nos movemos.
Ora, e tanto quanto me é dado parecer, é nesse mesmo sentido que o pensamento do Luís aponta, sobretudo quando refere que a economia deve ser subordinada à política e aos princípios do respeito pela pessoa e pelo seu bem-estar. Isto não é querer destruir o que, na estrutura do modelo, vai causar as futuras crises: é simplesmente querer subjugar o modelo aos interesses da população. Eu concordo com isso: até porque não sei como resolver as contradições de que o modelo enferma.