30 julho, 2008



O Amigo Pena, disse em comentário ao conto Dois Irmãos,
"Que contos extraordinários teria que revelar num sussurro profundo esse elevador."
Não é extraordinário, mas é mais um, de ficção pura e dura, para o desafio de UM CONTO PARA UM ELEVADOR

CONVERSAS DE VIZINHOS


O prédio ia ser deitado abaixo e ela ia fazer pela última vez aquela viagem de elevador que a levaria até ao 5º andar, onde se ia despedir das paredes que a tinham visto crescer.
Chamou o elevador, e enquanto chegava viu-se com dez anos a subi-lo pela primeira vez. Prédio de grandes famílias, menos o 4º onde se tinha acabado de nascer o primeiro filho do casal, o Tiago bébé lindo, cuja beleza sempre o acompanhou.
Como era ainda lento, sem nunca mais o terem modernizado. Os vizinhos eram amigos dos pais, a quem tratava por tios.
Finalmente entra, lembrando-se como era desengraçada em plena adolescência.
Tinha-se transformado por volta dos dezoito anos, corpo bem feito, as minissaias mostrando as pernas perfeitas, foi quando namorou o João, filho mais velho dos do primeiro andar.
O Tiago com oito lindos anos, já para ela olhava, e sempre que o via, ela ternurenta dizia
- Olá Tiago, és o vizinho mais lindo deste prédio
Os do segundo andar, sempre snobs, mal davam os bons dias, os filhos, porque os pais eram sempre simpáticos.
Desde os dezassete anos que quando junta fazia a viagem com o "Tio"do terceiro, ele lhe beliscava o rabo, e lhe dizia – Maria Antónia estás-te a transformar, qualquer dia pões a cabeça doida a qualquer homem – ela ria, para disfarçar o mal estar, que o amigo do pai, homem bem bonito, lhe provocava. Ao dezanove, agarrou-a pela cintura e roubou-lhe un beijo, enquanto ela lhe tentava fugir naquele apertado espaço, rindo-se ele da sua atrapalhação. Nunca mais com ele subiu
- Olá Tiago, és o vizinho mais lindo deste prédio...ele com dez anos corou e pôs os olhos no chão. Ela admirada, com uma mão levantou-lhe acabeça, olhou-o nos olhos e percebeu a paixão, então com infinita ternura deu-lhe um beijo na face, que o corou mais ainda.
Ainda vai a passar o terceiro andar e já só de se lembrar fica mal disposta, com a investida do pai do Tiago, que num acesso de loucura, tinha ela vinte e dois anos, mal fecharam as portas no rés-do-chão, a encosta à parede desapertando-lhe a blusa, enquanto ela se contorce e ele arquejante lhe diz ao ouvido, que assim ainda mais a deseja, mas que tem de lhe dar uma lição para não andar a provocá-lo com aquelas saias, enquanto a beija no peito já despido e as suas mãos percorrem o seu corpo. Já o elevador está parado no quarto andar e ele só larga a sua presa, quando ouve a voz da mulher à porta a perguntar-lhe o que se passa. Fica caída no chão, lágrimas a correrem-lhe pela cara, enquanto o ouve, respondendo à mulher, que estava a dar uma lição de moral à Maria Antónia. O pavor que a partir daquela altura tinha de no elevador entrar, fê-la muitas vezes subir a escada até ao quinto andar.
- Olá Tiago, continuas o mais lindo vizinho deste prédio...olá Maria Antónia....ele já com dezassete anos, ela casada, o mesmo olhar apaixonado...então ela com ternura, roça-lhe a boca num beijo leve
Já está no quinto andar e não sai logo, porque ainda se lembra da última vez que viu o Tiago já homem, mais bonito do que se lembrava, ela com quarenta cinco, sem se reconhecerem
Maria Antónia? Pergunta e ela com alegria – Tiago! Continuas lindo. No seu olhar já não existe paixão...e ela diz-lhe na brincadeira – Vês o que fazem os anos? E ele numa ternura, roça-lhe a boca num beijo leve, enquanto lhe diz – A Maria Antónia será sempre a mais linda e terna mulher que me marcou.

10 comentários:

Pena disse...

Sensível e Doce Amiga:

Um texto brilhante, intenso, pura e simplesmente sublime.
O elevador fala com a sua magia de sonhos que parecem gurdar para si, ternamente.
Um elevador que secretamente esconde nas suas paredes, algo sigiloso que faz parte da sua magia
vivida que a injustiça não consegue revelar por segredarem entre si a pureza do seu magnífico sentir.
Sei que poderá a qualquer instante, seguido de instantes, provocar o desencadear de emoções que lhe pertencem e que, a muito custo, preserva secretamente no seu seio feito de contos admiráveis.
Sensacional.
A pureza da Maria Antónia e o pequeno/grande "Tiago" amar-se-ão eternamente.
Deslumbrante e encantador elevador.
Perfeito, o seu ser.
Adorei! Parabéns sinceros.
Beijinhos amigos, de estima, respeito e consideração.
Brilhante Sentir, o seu, amiga.
Com admiração pela magia escrita fantástica que transmite.

pena

Anônimo disse...

Olá Pena


Comoveste-me, com este comentário.
De todos os modos, não me parece, muito sinceramente, que a minha escrita, que talvez não seja má, seja como a viste ou a sentiste.
Obrigado.

beijinho agradecido

Tia Brites disse...

Gostei. Simples q.b., que é o que resulta melhor. Só não gostei desta parte do blog que propõe a escrita dos contos:
"caso a encontrem desrespeitadora das regras vigentes em caso de insulto, pornografia, agressão, violência, etc" Este tipo de coisas arrepia-me sempre um bocado.

Anônimo disse...

Olá Manga


bem-vinda a este blog, enquanto não abrir o próximo, de depois te avisarei.
O Lauro António, que é quem conheço, é homem de mente aberta, por isso penso ser só um pró forma, para não aparecerem coisas desagradáveis.
Penso

beijinho

xistosa, josé torres disse...

Vou deixar tudo em sossego e partir para férias.
Talvez regresse a 22, dia que tenho que abandonar a "barraca", se bem que o "hoteleiro" é amigo de longa data.
Levo o portátil, talvez ele não renuncie a mais uns maus tratos do dono.
Espero aparecer ...

Até já!!!

Anônimo disse...

Boas Férias Xistosa

beijinho até lá

Mateso disse...

Retrato doce, fiável e tocante de uma época.
Na verdade o ritmo do conto é o subir ou descer da vida? Seja o que for está real ,por outras palavras, que quem escreve gosta de ouvir, brilhante, minha querida.
Parabéns!
(Isto é a resposta à tal escrita telegráfica, ahaha!)
Bj.

Anônimo disse...

Olá Mateso

Comparada com a beleza e riqueza da tua , podes crer que é telegráfica.
sorriso
Adorei o teu novo conto ,mas já te lá vou dizer.
Só cheguei agora a casa, e vim dar aqui uma espreita, para depois seguir para os teus lados.
Obrigado Mateso

beijinho

Tia Brites disse...

Sim, compreendo. Mas quem tem o direito de decidir o que é desagradável? Essas coisas são sempre perigosas.

Anônimo disse...

Olá Manga

Sabes, eu no Claras em Castelo, só uma vez apaguei um comentário por o achar ordinário de mais.
Teve consequências engraçadíssimas, porque quando o anónimo se lá foi queixar, entrámos em conversa delirante.
Não sou a favor, sequer, da moderação de comentários, pois mais não é do que filtrar o que achamos desagradável, e no entanto senti-me compelida a fazê-lo.
Num blog nosso, quem tem direito de achar desagradável ou não, são os seus administradores e não vejo nisso nenhum acto censório.

Beijinho, um gosto esta conversa contigo.