16 fevereiro, 2009

LOCALIZAÇÃO DO FUTURO AEROPORTO

Carta Aberta a Todos os meios de Comunicação Social



Carta aberta aos meios de comunicação portugueses,

Ainda há poucos dias assistimos através dos meios de comunicação à espectacular amaragem forçada de um avião de passageiros nas águas do Rio Hudson, junto a Nova Iorque. Na altura, foi sobejamente discutido o valor e perícia do piloto, que salvou os passageiros de morte certa, e a celeridade das embarcações que imediatamente recolheram os passageiros do avião sinistrado. Muito menos atenção recebeu a causa do acidente: o impacto de um bando de aves que causou a avaria dos dois motores do avião causando a queda (controlada) do aparelho.
A ocorrência de grandes concentrações de aves nas rotas de aproximação ou partida de aeronaves é um dos mais sérios desafios à aviação, mesmos nestes tempos modernos em que a tecnologia tantas vezes nos parece fazer imunes ao mundo natural que nos rodeia. Ainda no ano passado um outro avião teve também um problema semelhante em Itália, tendo sido obrigado a uma aterragem de emergência devido a um impacto com aves.
Parece assim natural e óbvio que a escolha das localizações dos aeroportos deve ter em séria consideração este tipo de riscos relacionados com a avifauna.
Não será então estranho que o governo português pretenda construir o novo aeroporto internacional de Lisboa na margem esquerda do Estuário do Tejo, na proximidade daquela que é irrefutavelmente a zona do país com maior densidade e abundância de aves? Se até em Nova Iorque ocorrem bandos de aves capazes de derrubar um avião, que dizer do Estuário do Tejo que alberga anualmente mais de 100000 aves aquáticas durante o Inverno? Isto, já para não falar do facto de esta ser uma Reserva Natural já desde 1976, tendo sido classificada como tal exactamente pelo valor que tem para a conservação da avifauna. Mas não tenho duvidas que é sobretudo a segurança dos futuros passageiros e não a das aves que mais preocupará os nossos governantes.
Uma das questões mais sérias são as aves que não usam apenas o estuário, mas também as áreas agricolas envolventes, nomeadamente o Maçarico-de-bico-direito.
Desde 2005 que trabalho num projecto da Universidade de Groningen, na Holanda, que foca a migração desta espécie de ocorrência comum na região do Estuário do Tejo. Estas aves reproduzem-se no Norte da Europa, nomeadamente na Holanda, migrando depois para a África Ocidental, onde passam os meses de Agosto a Novembro em países como o Senegal, a Guiné-Bissau e o Mali. A partir de Dezembro começam a migração de regresso às suas áreas de reprodução, parando em Portugal num período entre o final de Dezembro e o início de Março a fim de se alimentarem, sobretudo em arrozais, para obter a energia necessária para completar os seus vôos migratórios. Durante este período, tenho verificado todos os anos que se chegam a formar bandos de mais de 45000 aves, que se alimentam durante o dia em arrozais em redor dos estuários do Tejo e do Sado, passando a noite em zonas de sapal à beira dos rios.
Isto significa que temos bandos de dezenas de milhares de aves a fazerem vôos diários dos sapais para os arrozais e de volta. Várias destas zonas de arrozal ficam localizadas a pouca distância do Campo de Tiro de Alcochete, local de momento preferido para a localização do novo aeroporto. Mais gravemente, os referidos movimentos diários entre os arrozais e os sapais na orla do estuário levam os bandos de aves, que repito podem englobar dezenas de milhares de aves, a passar ainda mais próximo da localização provável do futuro aeroporto. Caso as rotas de aproximação e subida sejam paralelas ao estuário, como foi falado como medida para evitar a avifauna do estuário, os bandos de maçaricos iram cruzar essas rotas nos seus movimentos diários e, tratando-se de aves que voam a uma altitude considerável, poderão causar um grave risco de impacto para os aviões.
Por outro lado, no decurso deste projecto de investigação, marcámos muitas aves com anilhas de cor, usando combinações de cores que permitem identificar os indivíduos no campo, com o auxílio de um telescópio. A análise das observações destes indivíduos marcados mostra que ocorrem também movimentos entre as diferentes zonas de arrozal, incluindo movimentos entre entre o Sado e o Tejo, aumentando as possibilidades de bandos de aves cruzarem as rotas dos aviões.
Mas não são só os maçaricos que usam estes arrozais, muitas outras aves ocorrem nessas zonas e fazem movimentos na margem esquerda do Estuário do Tejo. Dois casos óbvios são as cegonhas, que se deslocam entre diferentes zonas de arrozal, e as gaivotas que se deslocam também diáriamente entre o estuário e as zonas agricolas (e não só os campos de arroz) envolventes, como ficou demonstrado por um indivíduo a que foi colocado um localizador GPS, na Holanda, e que foi seguido durante um ano, tendo migrado até Portugal e passado parte do Inverno no Tejo, onde fazia incursões frequentes até aos campos agricolas do concelho de Benavente. Tanto as cegonhas como as gaivotas são aves de porte consideravel e, no caso das gaivotas, ocorrem aos milhares na região em causa.
Posto isto, parece ser um absurdo a decisão de colocar um aeroporto neste local, mesmo que assim o tenha defendido o famoso estudo do LNEC, que no que respeita à avifauna foi efectuado em Novembro e como tal falhou por completo o período de maior abundância de aves que ocorre entre Dezembro e Março.
Por outro lado, convém lembrar que o estudo não disse que este era o local ideal, disse apenas que era menos mau do que a outra localização proposta, na Ota, tendo em conta não só factores ambientais mas também uma série de outros aspectos sobre os quais não me posso pronunciar por saírem fora da minha área de especialidade.
Foi também falado na altura que o problema das aves seria facilmente resolvido alterando a localização dos arrozais. Este ponto é no mínimo risível e demonstra um tremendo desconhecimento da situação pois tratam-se de largas centenas de hectares de campos de arroz, num dos principais núcleos de produção de arroz do país. Mesmo que todos estes campos pudessem ser removidos, não podem ser transpostos para outro local, pois a rizicultura só pode ser efectuada em zonas alagadiças ribeirinhas, locais que devido ao seu valor agricola já estão todos aproveitados para esse fim.
Por outro lado, se a deslocalização dos arrozais talvez pudesse resolver a situação dos maçaricos-de-bico-direito, não mudaria o facto que milhares de aves ocorrem nesta região e usam tanto as zonas estuarianas como os campos agrícolas, incluindo outros cultivos que não o do arroz, movendo-se um pouco por toda a zona em bandos de maior ou menor dimensão. Finalmente, convém lembrar que o Maçarico-de-bico-direito é uma espécie ameaçada, incluída na lista vermelha da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) pelo que a destruição de uma tão vasta área de habitat crítico para a espécie, como são estes arrozais, não pode ser vista de ânimo leve.
Penso que é essencial uma discussão profunda sobre a problemática das aves no que toca ao futuro aeroporto, tanto por motivos de segurança, como por questões ambientais e de conservação da biodiversidade. Na minha opinião esta questão torna de todo inviável o projecto de um aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete.
Infelizmente este tema não tem recebido grande atenção por parte dos meios de comunicação nacionais, pelo que decidi escrever esta carta na esperança de poder assim trazer para a praça pública esta problemática.
Trata-se de um assunto de extrema importância que pode fazer a diferença entre um futuro de viagens aéreas em segurança de e para Lisboa, ou de novas imagens espectaculares de amaragens de emergência não em Nova Iorque, mas em pleno Tejo.


Pedro Lourenço


Pedro M. Lourenço
Animal Ecology Group, Centre for Ecological and Evolutionary Studies
University of Groningen
email: p.m.g.lourenco@rug.nl
telefone (NL): 0650632241
telefone (PT): 938468585

15 fevereiro, 2009

A saloiada nacional vêm de cima

Barack Obama quer trabalhar com Portugal para “edificar um mundo mais seguro”. O desejo do presidente norte-americano foi expresso numa carta enviada esta semana ao Chefe de Estado português a que a Agência Lusa teve acesso. Missiva semelhante também foi enviada ao primeiro-ministro José Sócrates.


Obama agradeceu a carta de felicitações enviada pelo Presidente da República portuguesa, aquando da sua eleição a 4 de Novembro. Dizendo ter apreciado “particularmente” a missiva de Cavaco Silva, Obama refere-se a “um quadro de desafios” que serão melhor defrontados em conjunto.

Pode ser que eu seja má língua, mas esta carta tem todo o aspecto duma circular ou algo parecido com isso, que o presidente Obama. terá mandado a todos os países do Mundo que o felicitaram pela sua eleição, como mandarão por certo as boas normas do protocolo e da educação.

Acredito, que a grande maioria dos Países o tenha feito e naturalmente a todos eles Obama terá agradecido, o que talvez falte aos outros lideres partidário é essa mesquinhez ridícula e saloia de se porem em bicos de pés, como fizeram os serviços da Presidência da República e do Conselho de ministros de Portugal, dando a entender que segundo Obama, somos extremamente importantes.

Era simples de ressolver esta questão, bastava não publicitar a recepção desta carta que realmente não tem importância NENHUMA .

10 fevereiro, 2009

Que a História não se repita

Salazar disse o seguinte no I Congresso da União Nacional em 26 de Maio de 1934

a economia liberal que nos deu o supercapitalismo, a concorrência desenfreada, a amoralidade económica, o trabalho mercadoria, o desemprego de milhões de homens, morreu já.

Receio apenas que, em violenta reacção contra os seus excessos, vamos cair noutros que não seriam socialmente melhores.

A História disse-me, que os excessos que na sequência da famosa crise de 1929 aconteceram e que não seriam socialmente melhores, foram ele próprio e o seu Estado Novo, porém, como as suas palavras se ajustam na perfeição a esta nova crise espero ardentemente que não apareça outro igual ou parecido, é a minha enorme esperança que a História não se repita.

05 fevereiro, 2009

EUTANÁSIA OU ASSASSINATO?






Já uma vez falei sobre este assunto, quando foi o ‘caso’ Terry Schiavo.
Vou relembrar a minha posição.
Sou a favor da eutanásia.
Penso que qualquer pessoa que esteja consciente, com doença terminal, ou mesmo que não esteja em estado terminal mas que se saiba à partida o que vai sofrer ainda até lá chegar, deveria poder pedir a eutanásia ou a morte assistida. Qualquer pessoa deveria ter direito a essa liberdade de opção.
Se já não estiver consciente, poderia também ter liberdade de escolha, desde que e só se o tivesse deixado escrito, enquanto consciente.
Para mim, eutanásia e, ou morte assistida, quer dizer, o desligar de uma máquina desde que cardíaca e não alargo mais no que ao desligar das máquinas diz respeito, ou uma qualquer injecção letal desde que não provoque dor.
No caso de Terry Schiavo e agora também no caso de Eluana Englaro, a situação é bem diferente.
- Desde logo, porque não estão conscientes e são outros a pedir a sua morte, o que não aceito de modo nenhum.
- Não deixaram nada escrito e tem de se confiar no que os familiares, mesmo que pais, dizem pensar que elas quereriam. Eles não têm a certeza se seria essa a opção de qualquer delas, eles unicamente pensam que elas teriam optado por essa via.
- Nestes dois casos, e, a medicina continua a saber muito pouco sobre o cérebro humano, não se trata de eutanásia nem de morte assistida, no meu entender como é óbvio, tratou-se e trata-se de deixar morrer à fome duas pessoas e vai demorar perto de duas semanas até que Eluana Englaro morra.
Para mim, isto é MORTE DESASSISTIDA
Para mim, isto é uma infâmia
Para mim, isto é um assassinato
Para mim, isto é um terror
Para mim, uma sociedade que permite que isto se faça, está no fim da civilização, por ser inadmissível a confusão ética sobre eutanásia e assassinato.
A repugnância que sinto hoje é maior, se é que pode ser maior, do que a que senti quando de Terry Schiavo.
Não me venham com a cantiga de que os médicos dizem que não vai sofrer. Todo o organismo sofrerá com a falta de alimentação. Já pensaram o que é um organismo inteiro a sofrer por falta de alimentação?
Daqui a uns anos poderá vir a saber-se que afinal o cérebro, ou as células nervosas, ou outra coisa qualquer, sofreu ou que registou o sofrimento.
E já repararam? Nem sequer está a dar muita polémica a não ser em Itália!!!!!! Já nos habituámos a que se pode matar alguém à fome?
Por que não uma lei que estabeleça o que é eutanásia e o que é assassinato?
Porque não uma injecção letal, nos termos em que referi?
Porque, deixem-me explicar melhor o que penso, mesmo que a morte destas duas mulheres fosse com injecção letal, pedida por familiares, eu estaria sempre contra.
Porque não se faz esta discussão nas sociedades?
Porque se deixará ao livre arbítrio de uma meia-dúzia de pessoas, mesmo que essas pessoas sejam juízes?
Já pensaram que poderia ser cá em Portugal? Aceitariam que os nossos juízes, que fazem cada argolada, decidissem da vida ou da morte de alguém? Os juízes Italianos serão melhores que os portugueses? E os americanos serão?
Não querem começar a discutir este assunto aqui? Com argumentos? Os que não têm a minha opinião e os que têm? Eu sei que muitos pensam de maneira diferente da minha. Gostava de os ouvir.

03 fevereiro, 2009

O homem mais rico de Portugal é um espertalhão

O meu amigo de infância o Penin Redondo escreveu no seu blogues DOT e COMe, o seguinte

Ao contrário do que alguns pensam a crise actual não representa a decadência do "neo-liberalismo", seja lá isso o que for, mas sim o apogeu.
Milhares de empresas aproveitam para se descartar dos empregados "obsoletos" ou para fazer uma oportuna cura de emagrecimento antes da retoma.
Mas agora, ao contrário do que acontecia antes, ninguém lhes leva a mal e o próprio Estado ainda dá uma ajudinha. Ou seja, a crise criou um belo pretexto para despejar nas mãos da Segurança Social uns largos milhares de trabalhadores descartados. Um verdadeiro paraíso "neo-liberal".


Concordo em absoluto com ele, tanto quanto esta notícia de hoje o confirma.

A Corticeira Amorim anunciou hoje o despedimento de cerca de 195 trabalhadores nas unidades de rolhas e aglomerados compósitos para fazer face ao "impacto negativo da crise global" na actividade do grupo.

Em comunicado enviado à Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM), a Corticeira Amorim explica o despedimento colectivo, que assinala ser o primeiro na história do grupo, com a necessidade de adequar a produção, sobretudo naquelas duas unidades, à quebra na procura.

O processo de despedimento colectivo abrange a dispensa de 75 trabalhadores na unidade de rolhas e de 118 na de aglomerados compósitos.

A redução na produção da unidade de rolhas é justificada pela Corticeira Amorim com as consequências que a actual crise global vão "certamente evidenciar" no consumo nos principais mercados-alvo do sector vinícola, para além da perda de quota do mercado de rolha de cortiça.

Quanto ao sector de aglomerados compósitos, a empresa refere um "provável" impacto negativo nas vendas dos seus produtos, que incluem componentes para a indústria automóvel e para a construção, "sectores cujas dificuldades são amplamente conhecidas".

Quer dizer que a empresa do glutão Amorim, o tal mais rico de Portugal, tem um excelente staf que lhe permite antever as oscilações do mercado, o que é normal e ainda bem.

Mas o senhor glutão, não quer correr o risco de ganhar menos, de suportar algum recuo nos seus resultados, tem que ganhar o mesmo, ainda que à custa de mais 195 famílias no desemprego e ao mesmo tempo vê-se livre de mais alguns trabalhadores, sem problemas com muito bem diz o Penim Redondo.

Felizmente, ainda há por ai algumas (poucas) excepções. Para dizer que numa delas por certo o mercado do café, dos azeites ou do vinho, também vai conhecer algum recuo, naturalmente que a família Nabeiro, vai ganhar menos este ano. A crise existe realmente. mas não ouço falar em despedimentos em manter lucros à custa da miséria alheia.

Já sei o que dizem os glutões, que o problema não é deles é do Estado, é a este que compete zelar pelos desempregados, é para isso que pagam impostos.

Sei isso, mas eles também sabem no país em que vivem e as consequências dos seus actos, do mesmo modo que Mário Rui Azinhais Nabeiro, sabe que podiam ganhar muito mais, se tivesse empregados a menos.

É por essas e por outras que não bebo café quando oque me querem servir, não é Delta.